Quando Chovia Paraquedas em Aragarças

Eu nunca soube de fato o motivo dos exercícios... seria uma preventiva contra uma nova Guerrilha do Araguaia? Sei lá?! Mas, eu gostava mesmo era de ver a chuva de paraquedas!

Ilustração a lápis de um paraquedista em seu paraquedas

Não faz tempo havia na minha morada (leia-se: Aragarças-GO) muitos setores despovoados, o maior deles era o quase inexplorado setor Y, hoje conhecido como Bairro Nova Esperança. Quem visita pela primeira vez o Nova Esperança é incapaz de imaginar que aquilo tudo não passava de um cerradão! Uma casa aqui e outra ali, mas, sempre nas cercanias da “Avenida Duque de Caxias”, cujo principal destino era na época o isolado Quartel do Exército (58° B I Mtz), da antiga e também isolada “DNER” (Departamento Nacional de Estradas e Rodagens) ou de um “inferninho” qualquer. Fora isso, o que mais atraia gente para aquela localidade era apenas o “desertão”: um campo de futebol de terra batida, onde os mais nostálgicos, garantem ter sido ali o local das mais espetaculares disputas futebolísticas da cidade de todos os tempos.

Mas, em se tratando do “desertão” o que me chamava atenção naqueles verdes anos, não eram os gols que aconteciam naquele campo, mas sim, a minha eterna suspeita de que o campinho de terra era o local de pouso para os paraquedistas em exercícios militares.

Parecia uma chuva de paraquedas caindo do céu! E aquilo com certeza atraia a molecada do meu setor: antes denominado de Z, mas pressuposto pela exuberante vista para a Serra Azul, foi devidamente rebatizado de Setor Bela Vista. Situado à beira do tapete vermelho para as visitas de Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek à cidade nos idos da Fundação Brasil Central e também um dos pilares no levante de 1959 liderado pelo militar e político, Haroldo Veloso e João Paulo Moreira Bounier, me refiro ao histórico aeroporto de Aragarças.

Naquele tempo era “comum” pedestres cruzarem tal aeroporto. Então, sem medir esforços, corríamos todos de cara para cima e de peito aberto em direção ao ponto de pouso, que sob minha eterna suspeita, se tratava do desertão. Era fantástico se deparar com algum milico enroscado nas árvores do cerrado durante a nossa investida. Entretanto, eu nunca soube de fato o motivo dos exercícios... seria uma preventiva contra uma nova Guerrilha do Araguaia? Sei lá?! Mas, eu gostava mesmo era de ver a chuva de paraquedas!

Por anos o cerrado e o desertão resistiram bem a invasão de casas no então conhecido Setor Y. Mas, o novo sempre vem!

Hoje o Bairro Nova Esperança é considerado um dos maiores bairros de Aragarças, com lojas, restaurantes, posto de combustível, igrejas, supermercados, drogarias e o seu nada desértico estádio...

Mesmo assim, quando contorno o aeroporto em visita aos amigos que moram no “Y” é inevitável não devanear vendo uma chuva de paraquedas no céu de Aragarças e imaginar se alguém tem a mesma suspeita que a minha: seria o desertão o local de pouso para os paraquedistas ou só um campinho de futebol?

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