Mais uma vez tive de chegar de passos leves na seção, nem eu mesmo sabia os motivos dos seguidos atrasos, só reconhecia que era inevitável. De repente uma consequência involuntária. Vai lá saber! Tudo que eu sabia é que não me agradava o fato de outra bronca na semana, ainda mais que tal desconforto poderia me acarretar uma suspensão.
Em silêncio e de queixo duro passei por toda área fria do frigorífico sem ao menos esboçar qualquer reação, isso talvez poderia até me pintar como um metido ou coisa do gênero, mas para mim, naquele momento, títulos era o que menos importava. Quanto menos eu fosse notado melhor seria!
Finalmente cheguei à “Drika” (era assim que eu a chamava): uma Cryovac VS 95 Vacuum Parker, uma máquina automática de embalagem de câmara grande e correia, responsável pela selagem a vaco dos produtos frescos e processados. Simples de ser manuseada, todavia, temida por qualquer colaborador novato, devido ao grau de responsabilidade depositado aos seus operadores. Afinal de contas, nós, os operadores, éramos os responsáveis pelo acabamento e aperfeiçoamento do produto, no caso: cortes nobres de carne bovina.
Posicionado em meu posto de trabalho e sem nenhuma advertência verbal por parte do supervisor ou outro bajulador atento, senti-me à vontade para o ritual corriqueiro... aperta uma tecla no painel virtual aqui, calibra outro botão acolá e eis que todas luzinhas vermelhas ficaram verdes apontando um novo ciclo produtivo.
Subitamente, enquanto eu me vangloriava da minha astúcia ao mesmo tempo que começava a de fato ouvir o vozerio dos companheiros, tomei de assalto, como um grande estalar de chicote o andar das esteiras. Tudo de novo, do mesmo jeitinho aos sete anos anteriores.
E lá estava eu no desempenho instintivo do meu oficio, um robô confiável trilhando fielmente o procedimento operacional padrão e as boas práticas de fabricação. Um misto de produtividade e a fervorosa ânsia pela pausa térmica, quando todos deixavam a gélida seção para o choque térmico.
“Pois é, artigo 253 da CLT defendido pelo sindicato companheiro!” (Alguns peões adoravam quando eu gritava isso, em contrapartida, os líderes de sessão e supervisores odiavam).
Nos ínterins quando o pensamento sobrepujava a realidade e todas as coisas passavam a serem feitas automaticamente, eu me indagava como e por que fui parar ali e me auto torturava pelo mal relacionamento com os livros e a escola. Mas, operar a “Drika” era preciso e já fazia tempo que eu tinha acostumado com aquilo. Estava convencido de que o meu salário não condizia ao meu esforço diário, mas, pelo menos era pago em dia. Adequado para honrar a palavra dada aos credores.
Principiava mais uma “parada térmica” quando algo me invadiu as narinas, era um cheiro escolar, infantil e doce, completamente familiar. Mas, de onde vinha? E por que aquilo me fazia tão nostálgico e culposo?
Assim como nos filmes, dei uma olhada de 360 graus em todo o ambiente e lá no canto sob a placa com a sigla: “SIF” (Serviço de Inspeção Federal) encontrei o que estava adoçando a minha memória. Eis, que a moça da Garantia da Qualidade preparava a inoxidável mesa de reinspeção e seguindo as normas, esterilizava a mesma fazendo uso de álcool.
Finalmente cheguei à “Drika” (era assim que eu a chamava): uma Cryovac VS 95 Vacuum Parker, uma máquina automática de embalagem de câmara grande e correia, responsável pela selagem a vaco dos produtos frescos e processados. Simples de ser manuseada, todavia, temida por qualquer colaborador novato, devido ao grau de responsabilidade depositado aos seus operadores. Afinal de contas, nós, os operadores, éramos os responsáveis pelo acabamento e aperfeiçoamento do produto, no caso: cortes nobres de carne bovina.
Posicionado em meu posto de trabalho e sem nenhuma advertência verbal por parte do supervisor ou outro bajulador atento, senti-me à vontade para o ritual corriqueiro... aperta uma tecla no painel virtual aqui, calibra outro botão acolá e eis que todas luzinhas vermelhas ficaram verdes apontando um novo ciclo produtivo.
Subitamente, enquanto eu me vangloriava da minha astúcia ao mesmo tempo que começava a de fato ouvir o vozerio dos companheiros, tomei de assalto, como um grande estalar de chicote o andar das esteiras. Tudo de novo, do mesmo jeitinho aos sete anos anteriores.
E lá estava eu no desempenho instintivo do meu oficio, um robô confiável trilhando fielmente o procedimento operacional padrão e as boas práticas de fabricação. Um misto de produtividade e a fervorosa ânsia pela pausa térmica, quando todos deixavam a gélida seção para o choque térmico.
“Pois é, artigo 253 da CLT defendido pelo sindicato companheiro!” (Alguns peões adoravam quando eu gritava isso, em contrapartida, os líderes de sessão e supervisores odiavam).
Nos ínterins quando o pensamento sobrepujava a realidade e todas as coisas passavam a serem feitas automaticamente, eu me indagava como e por que fui parar ali e me auto torturava pelo mal relacionamento com os livros e a escola. Mas, operar a “Drika” era preciso e já fazia tempo que eu tinha acostumado com aquilo. Estava convencido de que o meu salário não condizia ao meu esforço diário, mas, pelo menos era pago em dia. Adequado para honrar a palavra dada aos credores.
Principiava mais uma “parada térmica” quando algo me invadiu as narinas, era um cheiro escolar, infantil e doce, completamente familiar. Mas, de onde vinha? E por que aquilo me fazia tão nostálgico e culposo?
Assim como nos filmes, dei uma olhada de 360 graus em todo o ambiente e lá no canto sob a placa com a sigla: “SIF” (Serviço de Inspeção Federal) encontrei o que estava adoçando a minha memória. Eis, que a moça da Garantia da Qualidade preparava a inoxidável mesa de reinspeção e seguindo as normas, esterilizava a mesma fazendo uso de álcool.
Descobrindo o motivo nostálgico, eu entrei num estado de gargalhada tão intenso e alto que fui capaz de chamar não só a atenção dos companheiros, mas também do supervisor da seção, que como era de se esperar aproximou-se para o bravejo:
— O que está acontecendo aqui?! Qual motivo desta bagunça?! Qual foi a graça?! Volte ao trabalho! Arrocha caboclo!
E procurando fôlego, balbuciei o enigmático motivo:
— O estêncil! Cara! O estêncil!
— O que está acontecendo aqui?! Qual motivo desta bagunça?! Qual foi a graça?! Volte ao trabalho! Arrocha caboclo!
E procurando fôlego, balbuciei o enigmático motivo:
— O estêncil! Cara! O estêncil!
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