Passados sessenta e um anos daquele horroroso dia, me lembrei da Revolta de Aragarças.



Veículos do Exército Brasileiro próximos ao Congresso Nacional, durante o Golpe de 1964 | Agência Senado
 
Na penumbra da história, onde as sombras do medo se alongavam sobre a esperança, o ano de 1964 se revelou como um amante traiçoeiro. Sob o véu da promessa de ordem e segurança, um golpe militar orquestrado por forças conservadoras e apoiado por interesses estrangeiros desferiu um golpe mortal contra a jovem democracia brasileira

Como um amante possessivo, o regime militar sufocou as liberdades individuais, silenciou as vozes dissonantes e aprisionou o futuro em um abraço de ferro. A repressão se alastrou como uma praga, ceifando vidas, sonhos e a própria alma da nação.

A tortura, arma vil e covarde, tornou-se o instrumento de um amor doentio, arrancando confissões e semeando o terror. A censura, como um véu impenetrável, ocultou a verdade e distorceu a realidade, alimentando a ignorância e a subserviência.

Mas, como um amor proibido que floresce na clandestinidade, a resistência brotou nos corações daqueles que ousaram desafiar a tirania. Estudantes, operários, intelectuais e artistas se uniram em um coro de protesto, clamando por liberdade e justiça.

A luta foi árdua e desigual, marcada por sacrifícios e perdas irreparáveis. Mas, como um amor que transcende a morte, a chama da esperança jamais se apagou. E, após 21 anos de trevas, a democracia renasceu, como um amor reencontrado, para iluminar o caminho rumo a um futuro de paz e igualdade.

Mesmo assim, pasmem, passados 61 anos, ainda há quem clama que caia de novo sobre o Brasil a infame mortalha!



Ensurdecido por esses clamores envocando uma nova intervenção militar no país, me veio à tona um importante fato histórico precursor ao golpe de 1964, mas, pouco entendido, até mesmo desconhecido em nossa região e pela maioria dos brasileiros: a Revolta de Aragarças. Um levante militar que tinha como líderes o Tenente-Coronel João Paulo Moreira Bunier e o Major - Aviador Haroldo Veloso, além de dezenas de outros militares e civis.

O levante dos militares (principalmente os da Força Aérea Brasileira - FAB) ressentidos pela recusa de Jânio Quadros para concorrer ao cargo de presidente da república, tinha como objetivo iniciar um “movimento revolucionário” para afastar do poder o presidente Juscelino Kubitscheck, que segundo os líderes da conspiração estava comprometido com o comunismo internacional, sobretudo, de conluio com o “ousado” e então governador do Rio Grande do Sul (1959-1963): Leonel de Moura Brizola.



A intrépida ação ocorreu em 02 de dezembro de 1959 e resultou num dos primeiros sequestros aéreos da história, onde os insurgentes se apossaram de quatro aviões: Dois Douglas C 47, um Beechcraft e um Costelation e os conduziram para Aragarças-GO. A missão: bombardear os Palácios das Laranjeiras e do Catete (Rio de Janeiro) e ocupar as bases de Jacareacanga e Santarém no Pará.

Aragarças foi escolhida devido a sua importante localização geográfica em relação às demais bases aéreas do país e por seu isolamento, ou seja, uma estratégica base, sobretudo, para supostas adesões de simpatizantes e combatentes. O que de fato não aconteceu. Isolados e sem apoio os insurgentes foram sufocados pelas tropas do Governo Federal. Sem muito o que fazer e diante da iminente prisão e/ou morte, renderam-se. Os líderes revoltosos em pose dos aviões sequestrados se refugiaram na Bolívia, Paraguai e Argentina.

Relatos de aragarcenses que acompanharam as 36 horas em que se estendeu o levante afirmam que foram horas apavorantes, pois, sitiados não sabiam o que fazer e nem para onde ir, entretanto, mal desconfiavam eles naquela ocasião, que estavam presenciando uma importante página na história nacional.

Rendição dos amotinados no aeroporto de Aragarças | Campanella Neto

Felizmente, a maioria de nós, brasileiros, sabemos que a democracia é um processo contínuo e que demanda vigilância constante. A polarização política, a disseminação de notícias falsas e o discurso de ódio podem fragilizar as instituições democráticas e criar um ambiente propício a ameaças autoritárias.

É fundamental que continuemos defendendo a democracia, os direitos humanos e o Estado de Direito, fortalecendo as instituições democráticas e combatendo qualquer tentativa de retrocesso autoritário...

... Sem anistia!



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