Quarto Crescente: A praia que some.

Uma iguana

No limiar da década de 1980 era uma praxe os jovens artistas nativos de Aragarças, Barra do Garças e região, frequentar a bucólica praia banhada pelo rio Araguaia em Aragarças-GO para reuniões que varavam o dia e adentravam a noite em forma de modestos luaus completamente tranquilos, aquecidos e iluminados pela fogueira. E como tinha que ser: sempre embalados pelos suaves toques de violões. Um dos destaques nos violões era o então líder do Grupo Araguaia, o jovem Divino Arbués, pai da consagrada canção “Quarto Crescente”, obra que segundo ele mesmo, reflete como se fosse uma carta saudosa à uma pessoa querida, porém, longínqua das belezas da praia e de tudo que é belo aqui em nossa terra.

Devido a efervescência juvenil cada vez notória nas areias da praia, alguns empreendedores tiveram a visão de instalar barracas na mesma, dentre as quais destacam-se: Hilton (Hilton Hotel), João Maciel (falecido) e o Nelson Jesus Loureiro (Bar e Restaurante Quarto Crescente) que deu para sua barraca o mesmo nome da canção do Divino Arbués. Com o grande sucesso da música “Quarto Crescente” nas rádios do centro-oeste, edis aragarcenses à época, percebendo que a música era uma espécie de mensageira das nossas belezas, “batizaram” a praia de Aragarças como Praia Quarto Crescente. E então, Aragarças se transformou numa das principais rotas turísticas do Araguaia. É surpreendente que de um simples encontro de uma turma de artistas, se originou um importante evento como a Temporada da Praia Quarto Crescente!



Entretanto, mesmo com um festival de praia pomposo, é notório o quanto a cidade de Aragarças está aquém de outras cidades voltadas ao turismo no país. As redes: hoteleira, bancária e de restaurante, infelizmente são ínfimas, além do mais, o paisagismo urbano, a limpeza, os calçamentos das vias públicas e o esgoto ainda não são lá motivos de orgulho aos aragarcenses. Outro efeito que vem chamando muita atenção nos últimos anos é a perceptível redução da extensão da praia e o excesso de poeira na outrora aclamada “praia de areias brancas”, fazendo com que alguns turistas e nativos deixem de lado o majestoso Araguaia, corrente no quintal de Aragarças e de frente a exuberante Serra Azul e busquem outros redutos bem mais distantes, no entanto menos degradado, como as praias mato-grossenses: Da Arara no Pontal do Araguaia e a Do Bosque em Barra do Garças, banhadas pelo Rio Garças.

Sem sombra de dúvidas, tal fenômeno se deu devido às danosas catas de diamantes no Araguaia, as desenfreadas intervenções estruturais (campo e cidade) às suas margens e, claro, a constante e forçada maquiagem mediante máquinas, afim da terraplanagem da praia nos anos em que suas areias são consideradas “não uniformes” e/ou desagradáveis aos olhos dos turistas. E isso se manifestou mais uma vez nesse ano. Novamente as lagartas e as pás das máquinas, contrariando os apelos de ambientalistas e especialistas no assunto, entraram em ação.

Pouco se sabe de como será a temporada em 2025, se o tapete de barro vai ser estendido aos espetáculos de expressão nacional ou se terá os mesmos velhos confetes e rojões a fim de estancarem uma mácula cada vez maior na (considerada por muitos) temerosa-aragarcinha. Mas uma coisa é certa: a praia que seduziu os jovens artistas nos anos oitenta e que projetou a cidade de Aragarças no cenário turístico nacional, hoje em dia merece carícias menos humanas.


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