Nos tablados brotam os sacis e as mães-d'água



JOÃO LUIZ DO COUTO ATUANDO NO QUINTAL CULTURAL | FOTO: UB

Antes que fincasse nesse solo o mastro da bandeira da Expedição Roncador-Xingu, posteriormente transformada em Fundação Brasil Central, com os seus mentores, valores e cultura vindos do Sudeste, havia antes chegado por aqui outro tipo de sulista e, contemporâneos a estes, os nordestinos e nortistas atraídos para cá pelo brilho do diamante. Pedra que abrilhantaria as suas vidas e extinguiria (por assim dizer) uma “sequiosa situação”. 

Obviamente, muitos destes aventureiros não se bamburraram quando aqui se plantaram. Todavia, o que se pode afirmar sem vacilo é que os tais “heroicos garimpeiros”, ironicamente, enriqueceram essa terra, disseminando por todos os “campos de belezas mil” os seus marcantes costumes!

Foram os sulistas, nortistas e nordestinos que incutiram na Barra Goiana e Barra Cuiabana (primeira denominação para as cidades de Aragarças e Barra do Garças) a cultura popular, ou seja, suas tradições, conhecimentos e/ou crenças expressas em festas religiosas, crendices, literatura, lendas, mitos, jogos, brincadeiras, artesanato, comida típica, etc.

Cada lugar nessa gingante nação tem as suas lendas e mitos, dando origem ao folclore brasileiro. Define-se folclore como o conjunto de costumes, lendas, provérbios, manifestações artísticas em geral, preservado por um povo ou grupo populacional, sobretudo, por meio da tradição oral. 

Algo que naturalmente foi absorvido por aqui quando os pioneiros (leia-se: garimpeiros e expedicionários) começaram a florescer e mesclaram suas tradições aos dos nativos que povoaram a dita Amazônia legal.

Se citadas as lendas que sobressaltam a imaginação dos aragarcenses reluzirá: o boitatá, o boto, o curupira, o lobisomem, a mãe-d'água, o corpo-seco, a mula sem cabeça, a mãe-de-ouro, o saci-pererê, o pé de garrafa, o neguinho do pastoreio... dentre tantos outros. Já em se tratando das crendices mais praticadas em Aragarças destacam-se:

⁕Benzeções: rezas que alguns benzedores utilizam para a cura de enfermidades, sobretudo, as populares "arca caída" e "quebranto".

⁕Garrafadas e/ou Raizadas: medicamentos preparados por curandeiros à base de plantas naturais ou cultivadas.

⁕Amuletos: objetos utilizados por pessoas supersticiosas para dar sorte ou evitar males.

⁕Simpatias: práticas usadas para curar os mais variados males.

Infelizmente não se vê mais por Aragarças, as rodas de conversas sobre as referidas lendas e afins. Conversas que quase sempre eram denotadas em forma de causos à beira de uma fogueira ou no breu da noite quando “acabava a luz” e o rádio e/ou televisão se emudeciam. 

Embora isso pareça para muitos algo obsoleto e banal, ainda há por aí a propagação de tal herança. Exemplo disso se nota nas apresentações teatrais de João Luiz do Couto. Seja num modesto tablado em Aragarças ou na Embaixada de Portugal em Brasília ecoando com humor as peculiaridades dos nossos pioneiros.

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