Memórias de uma Colcha de Retalhos


VANESSA MERIQUI E JOÃO LUIZ DO COUTO ATUANDO NA PEÇA COLCHA DE RETALHOS
VANESSA MERIQUI E JOÃO LUIZ DO COUTO ATUANDO NA PEÇA COLCHA DE RETALHOS 

Todos que atenderam ao apelo da cultura e compareceram no salão paroquial da Igreja São Judas Tadeu em Aragarças naquela noite, tiveram o privilégio de serem agraciados com uma memorável peça teatral: “Colcha de Retalhos” encenada pela escritora e contadora de histórias, a paulista: Vanessa Meriqui e pelo escritor e professor de teatro, o são-felixcense: João Luiz do Couto.

O enredo da peça hasteava a bandeira do folclore nacional e enunciava o resultado “antropofágico” de João Luiz do Couto pelas cinco regiões do Brasil. Uma representação fantástica dos variados contos e causos do povo brasileiro. Onde, num diálogo entre a comadre (Vanessa Meriqui) e o compadre (João Luiz do Couto) em volta de uma máquina de costura remendavam músicas, poemas, sobretudo, retalhos em forma de estórias atemporais, afim de envolver a atenção do público numa colcha capaz de resgatar as raízes da nossa brasilidade.

Das estórias contadas no modesto tablado pela dupla de atores, uma em particular (não menos importantes do que as demais) me surpreendeu pela contextura apresentada: “A lenda do boto”. 

De acordo com a lenda tradicional, um boto cor-de-rosa sai dos rios amazônicos nas noites de festa junina e com um poder especial consegue se transformar num bonito, alto e forte jovem, vestido com trajes pomposos. Ele usa um chapéu branco para encobrir o rosto e disfarçar o nariz grande. Vai às festas e aos bailes noturnos em busca de jovens mulheres bonitas. 

Com seu jeito galanteador e falante, o boto aproxima-se das jovens desacompanhadas, seduzindo-as. Logo após, consegue convencer as mulheres para um passeio no fundo do rio, local onde costuma engravidá-las. Uma verdadeira alusão à gravidez fora do casamento.

O grande atrativo dessa lenda na peça “Colcha de Retalhos” é que a mesma, exprimiu a todos presentes de forma envolvente e emocionante o relato do filho do boto, algo inédito em relação às variáveis versões da dita lenda amazônica.

Outra ocasião que cativou bastante o público naquela noite foram as recitações de Vanessa Meriqui, em especial, dos versos da goiana Cora Coralina (esplêndido).

Não é exagero dizer que naquela ocasião 
(idos de 2017) o espetáculo “Colcha de Retalhos” preencheu momentaneamente essa nossa vasta lacuna cultural e que certamente despertou, um pouquinho que seja, o interesse de Aragarças e região para atrações mais valorosas do que a palmeada violência gratuita e, ademais, culturas inúteis.

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