Aragarças: Um museu a céu aberto ou apenas vestígios de uma época?


EXPEDICIONÁRIOS DA FUNDAÇÃO BRASIL CENTRAL
EXPEDICIONÁRIOS DA FUNDAÇÃO BRASIL CENTRAL 

Com o propósito de preencher “um vazio” do país, os pioneiros da Fundação Brasil Central, munidos de coragem e máquinas aqui chegaram com a “heroica missão” de trazer o litoral para o sertão. E assim fizeram ou pelo menos tentaram. Acamparam na parte alta de um cerrado que mais tarde seria denominado de “Base Velha” e aos pés do marco zero (o cruzeiro) colocaram em prática as ideias modernas, à época, de uma cidade predestinada a ser a nova bandeira a desbravar as entranhas do Brasil, semelhante à de São Paulo, mas, que ironicamente, emperrou-se às margens do símbolo maior da evolução local: o aeroporto. 

Nos aviões do CAN (Correio Aéreo Nacional) se avistava a notória causa deste bloqueio. Enquanto lá em cima surgia uma nova e planejada cidade, abaixo do aeroporto, às margens do rio Araguaia, fortalecia um “toco” no projeto arquitetônico da FBC pois, alastrava desordenadamente o vilarejo dos garimpeiros, dos sertanejos, da gente simples em sua rotina aventureira em busca do brilho para suas vidas: o diamante — pedra fundamental que moldou o cenário social e político aragarcense — abria-se assim a nova boca do sertão e principal veia do coração da Marcha para o Oeste, Aragarças, “a cidade da fronteira”.

IGREJA SÃO JUDAS TADEU
IGREJA SÃO JUDAS TADEU

Cidade Baixa

Num primeiro momento, exploradores, mineradores, garimpeiros, comerciantes, religiosos e todo gênero de aventureiros atiçados pela febre da riqueza do diamante ou mesmo usufruto das extensas planícies e pastos naturais se fixaram por aqui. Essa gente que tanto contribuiu para o povoamento procedia dos sertões nordestinos, tocantinenses, maranhenses, paraenses, daí que o padroeiro da comunidade nascente homenageava Bom Jesus da Lapa, clara reminiscência da Bahia.

Cidade Alta

Veio a Marcha para o Oeste e catapulta o humilde povoado à condição de base militar, sede de autarquia federal e ponto de partida para o desconhecido e inexplorado dos confins da Amazônia. É uma época de verdadeiro fausto, Aragarças era a vanguarda da civilização brasileira nesses confins e a sua condição de importância era tamanha a ponto de ofuscar as cidades vizinhas em estrutura e prestígio. É desse período a vinda de muitos funcionários públicos vindos do Rio de Janeiro e outros estados, nesse sentido, a cidade quase ganha outro padroeiro: São Judas Tadeu. Porém, presume-se que a condição de cidade federal não despertou nas autoridades da época a busca de viabilidade agrícola e pecuária, ironicamente, os burocráticos da Fundação Brasil Central desconsideraram o espaço geográficos como fator de produção de riqueza.

Cidade Dormente

Seguiram-se administrações estéreis, não raro parasitárias dos parcos recursos públicos. Desdenhosas e incapacitadas para competir por invetimentos e melhorias para comunidade, descuidaram do patrimônio arquitetônico, histórico e cultural então existente. O resultado disso é sabermos pouco, muito pouco de nosso passado. O que nos chega são fragmentos, ecos quase indecifráveis, apenas vestígios indicadores da existência de uma “belle époque aragarcense”.

MARCO ZERO / CRUZEIRO
MARCO ZERO / CRUZEIRO 

Quando se anda por Aragarças hoje em dia o que se vê? Que notícias se tem desta cidade nos nossos meios de comunicação? Fora as manchetes policiais e a rotina política local, não se propaga mais nada. Deixando na maioria dos munícipes de Aragarças a sensação de que a cidade ainda se trata de uma pobre vila de garimpeiros que cresce lentamente à sombra da frondosa árvore da sua vizinha: Barra do Garças. O que culturalmente não é verdade.

Com a extinção da Fundação Brasil Central a alavanca que movia uma cidade próspera emperrou-se, todavia, deixou além da históricas pontes sobre os rios Araguaia e Garças, o seu rico legado: um museu a céu aberto. Lembranças fiéis de um “plano moderno” para essa região. E se todos olhassem com mais atenção a sua volta ou mesmo debaixo dos seus pés viriam à mostra de um preenchimento bem mais elaborado para o então “vazio do Brasil”, presente em todas as partes, desde um hotel feito para presidentes às pedras das ruas que antecederam o escuro asfalto de hoje.

É completamente aceitável dizer que Aragarças após a extinção da Fundação Brasil Central caiu em desgraça devido às más administrações municipais, mas dizer que ela é pobre... Vai depender muito do ponto de vista.

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